A periodontite é uma condição complexa e multifatorial, que resulta na inflamação crônica dos tecidos de suporte dos dentes, levando à destruição óssea e perda dentária. Embora o biofilme dental seja um dos fatores fundamentais para o desenvolvimento da doença, ele não é o único responsável. Estudos recentes têm mostrado que fatores genéticos desempenham um papel importante na modulação da resposta imunoinflamatória, na susceptibilidade à periodontite e na gravidade da doença. Neste artigo, exploramos como a genética influencia a periodontite, destacando os principais fatores genéticos envolvidos, a interação com o ambiente e as implicações clínicas dessa descoberta.
Influência Genética na Periodontite
A periodontite não se desenvolve de maneira uniforme em todas as pessoas. Enquanto alguns indivíduos podem ser mais resistentes ao desenvolvimento da doença, outros podem ser mais suscetíveis a ela, independentemente da higiene oral ou outros fatores de risco. Esse comportamento é influenciado por diversos fatores genéticos, os quais podem modificar a resposta do organismo ao biofilme dental e à inflamação local. Vamos entender melhor como esses fatores genéticos impactam a periodontite.
1. Citocinas Pró-inflamatórias e Polimorfismos Genéticos
Citocinas como a interleucina-1 (IL-1) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) são mediadores inflamatórios essenciais na periodontite. Alterações genéticas nessas citocinas podem aumentar a produção de mediadores inflamatórios, exacerbando a resposta imunoinflamatória e, consequentemente, a destruição tecidual. Polimorfismos genéticos em IL-1 e TNF-α têm sido associados a uma maior severidade da periodontite, uma vez que esses genes influenciam a intensidade da inflamação e a velocidade de progressão da doença.
2. Regulação Óssea: O Papel dos Genes RANKL e OPG
Além das citocinas, a perda óssea é uma das consequências mais devastadoras da periodontite. Dois genes importantes nesse processo são o RANKL (Receptor Activator of Nuclear Factor Kappa-B Ligand) e o OPG (Osteoprotegerina). Essas moléculas estão envolvidas na regulação da formação e destruição do osso. Variantes genéticas nesses genes podem aumentar a atividade do RANKL e diminuir a ação protetora do OPG, favorecendo a reabsorção óssea e contribuindo para a perda de osso alveolar nos pacientes com periodontite.
3. Herança Familiar e a Gravidade da Doença
Estudos têm mostrado que a predisposição genética à periodontite pode ser herdada. Indivíduos com histórico familiar de periodontite têm uma maior probabilidade de desenvolver a doença e, frequentemente, ela se manifesta de forma mais severa. Isso sugere que genes específicos estão modulando a resposta do sistema imunológico e da inflamação, afetando a progressão da periodontite em diferentes gerações.
Genes x Ambiente: A interação crucial
Embora a genética tenha um papel significativo na periodontite, fatores ambientais também são determinantes na expressão clínica da doença. Tabagismo, má higiene bucal e comorbidades sistêmicas como diabetes são alguns dos principais fatores ambientais que interagem com a predisposição genética, modulando a gravidade e a evolução da periodontite.
Indivíduos com uma predisposição genética para a periodontite podem ter uma maior probabilidade de desenvolver a doença quando expostos a esses fatores ambientais adversos. Por exemplo, o tabagismo pode exacerbar a resposta inflamatória já iniciada por variantes genéticas em citocinas e outros mediadores. Da mesma forma, uma higiene bucal inadequada pode facilitar a formação do biofilme bacteriano, potencializando a resposta inflamatória em indivíduos geneticamente suscetíveis.
Implicações clínicas da identificação de predisposição genética
A compreensão da predisposição genética à periodontite pode transformar a abordagem clínica do tratamento e prevenção da doença. Com o avanço das tecnologias de genômica, é possível identificar biomarcadores genéticos que indicam uma maior susceptibilidade à doença. Isso pode permitir que os profissionais de saúde bucal personalizem os tratamentos, focando em indivíduos de alto risco e ajustando as estratégias terapêuticas para prevenir a progressão da periodontite.
Além disso, a identificação de variantes genéticas pode ajudar a prever a resposta dos pacientes a diferentes terapias. Alguns pacientes podem responder melhor a certos tratamentos, como terapias anti-inflamatórias ou regenerativas, com base em suas características genéticas.

Desafios e futuro da genômica na odontologia
Embora os avanços na genética e na genômica sejam promissores, ainda existem desafios a serem superados para integrar essas descobertas de forma eficaz na prática odontológica. O custo das tecnologias de sequenciamento genético e a necessidade de interpretar grandes volumes de dados genômicos são questões que precisam ser abordadas.
Além disso, a introdução da genômica na odontologia traz questões éticas importantes, como a privacidade genética dos pacientes e o uso responsável das informações genéticas para o planejamento do tratamento.
Conclusão
A periodontite é uma doença complexa, e os fatores genéticos desempenham um papel fundamental na sua manifestação e progressão. A identificação de polimorfismos genéticos e biomarcadores pode levar a tratamentos mais personalizados e eficazes, melhorando os resultados para os pacientes. No entanto, é importante continuar o avanço das pesquisas genéticas na odontologia e garantir que a genômica seja incorporada de maneira acessível, ética e eficaz na prática clínica.
Com o tempo, espera-se que o conhecimento sobre a interação entre genes e ambiente continue a transformar a maneira como diagnosticamos, tratamos e prevenimos a periodontite, oferecendo novas possibilidades para a saúde bucal dos pacientes.
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Referências Bibliográficas
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